sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O que é belo

Há muita beleza no mundo. E em pequenas coisas. Mas não me utilizarei aqui de clichés para ilustrar essa afirmação. Seria simples demais citar a magnitude de um pôr ou nascer do Sol. Do oceano, de um arco íris. Mas eu vejo beleza além disso. Posso descobrir detalhes mínimos que me surpreendem ao perceber quão cheia de surpresas a vida pode ser. Cito aqui o movimento das nuvens brancas em contraste com o céu azul. Ou a lua que de vez em quando aparece a tarde, dividindo o céu com o Sol. Bolhas de sabão que brilham na luz do dia, na efemeridade da sua existência. E as pessoas. Eu ainda creio na beleza dentro de cada um de nós. O ser humano é lindo. Em sua particularidade. Em seus traços em comum. E há tanto a aprender. Não existe alguém tão humilde ou idiota que não tenha nada a ensinar. Tendo isso em vista, há um infinito a ser conhecido. E em tão pouco tempo. O tempo também é belo. Como influi em cada vida. Somos, ao fundo, guiados pelo tempo. E o tempo foi criado por nós. A complexidade da vida é o que mais me atrai. É uma beleza tão simples e simultaneamente tão complicada. Há muito mundo na beleza.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O comunismo e o casamento

Cada ser humano tem como único bem verdadeiro a capacidade de sonhar como quer e quando quer, ou até mesmo a liberdade de não querer sonhar com coisa alguma se assim o desejar. Céticos, crentes, iludidos, realistas, deprimidos. Somos o que somos de acordo com aquilo que acreditamos – ou deixamos de acreditar. Pois bem, qualquer um, ou qualquer coisa, que tente tirar de nós esse direito irrevogável terá de enfrentar a pior das iras, das raivas, das resistências.
Lá pras bandas de 1840 dois alemães escreveram um livro denso e complexo denominado ‘O Manifesto Comunista’, o qual fazia uma dura crítica ao modo de produção capitalista e a forma como a sociedade se estruturou através desse modo. Também propunha uma quebra com este sistema e o estabelecimento de uma sociedade controlada pelo proletáriado, onde o produto fosse democratizado, e o sonho estagnado.
Pronto, estava feita a balbúrdia. O mundo dividiu-se em dois e a humanidade presenciou diversas demonstrações de burrice por parte dos ‘líderes’ dos dois blocos. Sem mais delongas neste assunto, o que quero dizer é que acredito profundamente que o comunismo estava fadado desde o início pois interferiu (ou tentou interferir) naquele nosso primeiro ponto, a liberdade de sonhar. De que adianta poder ter direito aos meios básicos de vida se não poderemos sonhar com uma melhora, uma evolução, uma conquista? É fato consumado que os homens precisam de algo a mais para perseguir. Assim, quando em 1989 caiu o tal do muro, apenas tivemos a confirmação do que já sabíamos. Preferimos correr o risco de acabar na miséria podendo almejar a algo melhor à certeza de possuir o necessário sem poder sonhar.
Bem, agora vem a parte interessante. O casamento segue o mesmo princípio do comunismo. Porque veja bem, quando conhecemos alguém passamos a querer saber mais sobre aquela pessoa, estar mais em sua companhia, gastar horas e horas partilhando pedaços de vida. Num namoro esperamos sempre algo a mais, seja mais intimidade, mais proximidade, mais maturidade. Enfim, estamos sempre em movimento. Aí vem o noivado, com todas as suas expectativas e preparatórios. E finalmente ele, o casamento. No inicio tudo são flores. É casa pra comprar, filho pra criar, sonhos pra perseguir. Depois daqueles primeiros anos, no entanto, vai morrendo o sonho (ou a ilusão?) da vida perfeita a dois que tínhamos enquanto meros jovens apaixonados. As contas começam a pesar e a falta de algo pelo qual esperar nos acomoda e tira o gosto de estar junto a outra pessoa. Morreu o sonho, morreu o amor, e o casamento está fadado. A verdade é que somos todos uns grandes capitalistas do amor.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O final do ano está aí e a cidade toda começou a se enfeitar. Mal chegou o meio de novembro e todos os centros capitalistas de respeito já penduraram suas estrelinhas, já montaram suas árvores de metros de altura, e já contrataram um papai noel. O supermercado já está vendendo fileiras e mais fileiras da família tone: panetone, chocotone, mussotone, frutone, sei lá o que. Na teve todo comercial anuncia a chegada dos feriados, e a necessidade urgente de que todos saiamos para comprar (como se eu, consumista ativa como sou, precisasse de uma desculpa para gastar cada centavo em coisas inúteis).
E ai me vem todo mundo com seus planos de final de ano, suas viagens em família, suas casas de praia, tickets de cruzeiro e toda essa parafernalha. E como se não fosse o bastante, o cinema ainda é tomado por todos esses filminhos natalinos que contam a mesma história de uma família feliz e saltitante com vários problemas que acabam magicamente sendo resolvidos antes do natal, o que, obviamente, ensina a todos lições valorosas de vida.
Ora faça-me o favor. Enquanto o mundo submerge a essa avalanche de felicidade eu me encontro no meio da pior crise, que me bate a porta quando estamos às premissas de dezembro: a depressão de final de ano. Toda santa pessoa que me conhece já me falou que não tem sentido nenhum eu me sentir assim. Que muito pelo o contrário, final de ano é uma época feliz, onde temos a oportunidade de bolar planos novos, nos unir com os amigos, partilhar nossas conquistas. Mas pra mim não. Pra mim final de ano representa uma raiva mesclada de vontade de chorar e de me entregar aos meus discos mais deprimentes e comer como uma louca enquanto penso em tudo de errado que eu fiz ao longo do ano, ou em tudo que poderia estar acontecendo e não está.
Final de ano me lembra que o tempo está passando enquanto eu deixo a vida apenas acontecer. Lembra das minhas promessas furadas de anos anteriores e das resoluções que acabaram por esquecidas atrás do armário. Bullshit. Final de ano é um grande pé no saco. Eu gosto do natal, da ceia (como eu haveria de não gostar de muita comida?), do que a coisa representa em si. O ano novo também é legal, todo mundo com suas tradições, e os fogos de artifício (pelos quais eu tenho uma verdadeira obsessão). O que eu não suporto é o final de ano em si. E não, essas três coisas não são necessariamente conectadas.
Não sei, talvez não faça sentido nenhum, mas é assim que eu me sinto. O que me resta é recolher-me a minha insignificância e curtir essa falta de esperança enquanto espero pacientemente a chegada de janeiro, com seu calor intenso e suas promessas de uma vida pela frente.