terça-feira, 30 de novembro de 2010

entre Pagu e Amélia

nunca tive mesmo vocação para princesa infantil
enquanto todas as outras meninas se perdiam em contos de fada
eu fugia das mãos protetoras de pais e professores...
não fui feita para ser cuidada

nunca quis mesmo ser a noiva dos sonhos
enquanto todas as mulheres de vidro, necessitadas de um marido gentil
eu queria viajar, conhecer, explorar...
não fui feita para ser servil

nunca quis ser a dona de casa feliz
enquanto todas as outras passavam anos comprando enxoval
eu gastava tudo com exposições, teatros, jantares...
não fui feita para ser banal

mas aí apareceu você.
sorrindo, gostando dos mesmos filmes, das mesmas musicas, dos mesmos cigarros, do mesmo café
e eu esqueci como era pra ser
e passei a viver só o que é

sem saber ao certo se me entrego ou se fujo
entre o que sou e o que achei que seria
todas as concepções de mundo, as idéias embaralhadas
e no meio você, meu deus, quem diria

nessa balbúrdia, nessa confusão
já me esqueço se sou mulherzinha
já não sei se já fui quem pensei
o que eu sei nesse momento é que não quero mais ficar sozinha.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Já vi explicações científicas, paranormais, psicológicas
De nada adiantaram, nenhuma me convenceu
Quando duas almas se cruzam desse modo
Ninguém pode explicar ao certo o que ocorreu

Tentaram também reduzir em palavra
Amor, sexo, paixão
Mas sentimento não se dobra
E nem tem definição

sexta-feira, 11 de junho de 2010

É um assunto delicado, eu sei. Mas tem me incomodado muito ultimamente. E quando digo ultimamente quero dizer no último ano e meio.
As pessoas parecem achar que ter fé é um ato de submissão, de gente que não tem capacidade crítica. Falam de fé como se fosse uma doença, típica dos menos estudados.
Olha, eu não quero defender religião. Mas fé... fé é a coisa mais bonita que existe. É muito fácil não acreditar em nada. Não exige esforço nenhum não acreditar em nada. Ter fé sim, exige muito, muito, muito esforço. Fé é a certeza daquilo que não vemos. Imagina o esforço que é preciso para continuar acreditando apesar das pessoas subestimarem, de você mesmo por vezes duvidar, das circunstâncias irem de encontro.
Não acreditar sim, não exige nenhuma abdicação pessoal. É um ato para os mais fracos. Crer, sim, é uma tarefa árdua.
Por isso não entendo quando dizem que as pessoas que têm fé são cegas. Não, pelo contrário. Acredito que vemos até demais. Vemos aquilo que os outros não vêem (ou se recusam a enxergar), e talvez esteja justamente aí o problema.
Criticar religiões eu posso entender. Até porque elas são feitas de homens, e homens erram, e muito. Mas duvidar da fé alheia, chamar isso de ignorância, isso eu não posso aceitar nunca.
Se não fosse pela fé de que as coisas um dia podem melhorar, de que existe algo mais do que isto, seria muito difícil entender todas essas injustiças que existem por aí.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

é só mistério não tem segredo

Acho que os grandes autores são grandes porque escrevem coisas que nos fazem pensar: "Esse cara me conhece de onde?". Mas, na verdade, talvez isso aconteça porque, no fundo, as angústias humanas são muito limitadas, muito parecidas, ou mesmo iguais.

Florbela Espanca escreveu: "O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!"

Eu nunca conseguiria colocar em palavras de uma forma tão perfeita o que eu sinto. E, há quase um século, ela colocou. O que une seres humanos tão distantes? Somos tão pequenos. Em K-pax ele fala algo como somos todos conectados, dependentes, necessitados uns dos outros. Vivemos nos batendo, nos tocando, na esperança de sentir algo, de achar alguém.

Aí vem ela denovo dizendo: A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a moldura é que é diferente.

As coisas que escrevo, ultimamente, parecem muito deprimentes. Mas é porque em nenhum outro lugar posso falar com tanta sinceridade.
Me sinto pequena, bem pequena. Sabe aquela expressão, que tem em todo filme: "don't be too harsh on yourself?". Pois é, eu sempre sou.

Mas há alegria também. "Há uma primavera em cada vida: é preciso cantá-la assim florida, pois se Deus nos deu voz, foi para cantar! E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada que seja a minha noite uma alvorada, que me saiba perder...para me encontrar...."
É preciso ser maior que o mundo às vezes. E ao mesmo tempo saber e encontrar... nas menores coisas.