quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O comunismo e o casamento

Cada ser humano tem como único bem verdadeiro a capacidade de sonhar como quer e quando quer, ou até mesmo a liberdade de não querer sonhar com coisa alguma se assim o desejar. Céticos, crentes, iludidos, realistas, deprimidos. Somos o que somos de acordo com aquilo que acreditamos – ou deixamos de acreditar. Pois bem, qualquer um, ou qualquer coisa, que tente tirar de nós esse direito irrevogável terá de enfrentar a pior das iras, das raivas, das resistências.
Lá pras bandas de 1840 dois alemães escreveram um livro denso e complexo denominado ‘O Manifesto Comunista’, o qual fazia uma dura crítica ao modo de produção capitalista e a forma como a sociedade se estruturou através desse modo. Também propunha uma quebra com este sistema e o estabelecimento de uma sociedade controlada pelo proletáriado, onde o produto fosse democratizado, e o sonho estagnado.
Pronto, estava feita a balbúrdia. O mundo dividiu-se em dois e a humanidade presenciou diversas demonstrações de burrice por parte dos ‘líderes’ dos dois blocos. Sem mais delongas neste assunto, o que quero dizer é que acredito profundamente que o comunismo estava fadado desde o início pois interferiu (ou tentou interferir) naquele nosso primeiro ponto, a liberdade de sonhar. De que adianta poder ter direito aos meios básicos de vida se não poderemos sonhar com uma melhora, uma evolução, uma conquista? É fato consumado que os homens precisam de algo a mais para perseguir. Assim, quando em 1989 caiu o tal do muro, apenas tivemos a confirmação do que já sabíamos. Preferimos correr o risco de acabar na miséria podendo almejar a algo melhor à certeza de possuir o necessário sem poder sonhar.
Bem, agora vem a parte interessante. O casamento segue o mesmo princípio do comunismo. Porque veja bem, quando conhecemos alguém passamos a querer saber mais sobre aquela pessoa, estar mais em sua companhia, gastar horas e horas partilhando pedaços de vida. Num namoro esperamos sempre algo a mais, seja mais intimidade, mais proximidade, mais maturidade. Enfim, estamos sempre em movimento. Aí vem o noivado, com todas as suas expectativas e preparatórios. E finalmente ele, o casamento. No inicio tudo são flores. É casa pra comprar, filho pra criar, sonhos pra perseguir. Depois daqueles primeiros anos, no entanto, vai morrendo o sonho (ou a ilusão?) da vida perfeita a dois que tínhamos enquanto meros jovens apaixonados. As contas começam a pesar e a falta de algo pelo qual esperar nos acomoda e tira o gosto de estar junto a outra pessoa. Morreu o sonho, morreu o amor, e o casamento está fadado. A verdade é que somos todos uns grandes capitalistas do amor.