terça-feira, 23 de junho de 2009

well, if that's love it comes at much too higher cost

Eu quero que você saiba de muitas coisas. Pois há, de fato, muito que aconteceu nesses últimos sete (quase oito) anos. Eu aprendi com os outros muito daquilo que você deveria ter me ensinado. Eu desaprendi com a vida as poucas lições que você me deu.
Do que era antes apenas um pouco sobrou. Eu transformei e adaptei muita coisa a nova pessoa que se formava; a nova Bruna que ia nascendo (e que ainda renasce um pouco todos os dias). Da antiga mescla de sentimentos primordiais e imaturos que senti – admiração, proximidade, dedicação – ficou quase nada. O tempo provou que minhas primeiras impressões estavam todas erradas e você não era mesmo tudo aquilo que aparentava. Já daqueles outros sentimentos mais profundos – respeito, amor, carinho – ainda resta alguma coisa se equilibrando sob a superfície fria que tento mostrar. Acho que mais um pouco e eles também morrerão, embora eu tente tão avidamente fazê-los ficarem ai. Preciso acreditar que sinto um pouco por você. Preciso saber que ainda há esperança de recuperar o que nós já tivemos um dia. Porque é a única coisa que me faz continuar acreditando em você. Se não fosse isso, eu já haveria me convencido que você foi apenas uma invenção da minha mente infantil. Nada mais que a necessidade de um porto seguro, de alguém que me ajudasse a dar os primeiros passos.
A maior mudança, no entanto, não está relacionada com o nosso contato (raríssimo, devo dizer) ou com o que sinto ou deixo de sentir em relação a você (ou você a mim). O que mais mudou entre nós dois foi o fato que eu hoje vejo que você não passa de um homem normal. Parece um pouco idiota, mas não para mim. Eu acreditei durante nove anos que você fosse, realmente, deus. Sim, você foi meu deus durante muito tempo. Foi quem me ensinou a falar, a andar, a pensar. Você me ensinou a existir. E me defendia. E me escondia embaixo da mesa depois que eu tinha feito alguma coisa errada. E recebia minhas ligações durante suas reuniões e me mandava bonecas caras. Mas nossa relação era bem mais que material. Eu sabia (ou pelo menos achava que sabia) que você era meu. E seria pra sempre. Estaria ali, quando eu quisesse para o que eu precisasse. E isso me mantinha de pé. Saber que havia alguém no mundo que faria tudo por mim. Na mente de uma criança essas resoluções não são bem claras. Mas com o passar dos anos eu consegui chegar a estas conclusões. Então no dia que você se foi, levou consigo um pedaço de mim. Auto confiança, amor próprio, segurança, chame do que quiser. Você deixou pra trás um alguém incompleto, que percebeu do modo mais difícil que ninguém (ninguém mesmo) vai nos segurar quando cairmos. Foi ali que eu soube (embora não tivesse ainda plena consciência disso) que você era apenas um mortal. Alguém sujeito a erros catastróficos com quem eu não podia contar. E isso me afastou completamente. Isso me tira toda a vontade de voltar atrás e te ligar, ou te procurar.
Tenho déficit de energia quando o assunto é você porque sinceramente, não aguento mais me decepcionar. Por isso eu espero profundamente que você um dia me ache e me convença que estava errada. Não há como voltar atrás no que foi feito, mas você poderia ao menos mostrar-me que, sim, você não é nem nunca vai ser deus, mas um homem normal que tenta excepcionalmente acertar. Eu estou disposta a abrir a porta, se você ao menos bater.
Há tanta coisa ainda que você precisa saber.

(dois anos atrás)