quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O monstro

Debaixo da cama se escondia uma pequena menina. Ela estava tão quieta que ninguém poderia aperceber-se de sua presença ali. Mal respirava. Tapava os ouvidos para não ouvir todo aquele mal, e os olhos para não ver o monstro. E este não vinha do armário, e nem de debaixo da cama. Este monstro era pior que todos os outros. Todos aqueles monstros que habitam nos contos infantis não podiam se comparar a ele. Porque ele machucava e batia. Ele fazia sangrar. Este mostro não era piedoso. E a história não iria terminar com um final feliz. Por quatro noites seguidas a menininha esteve escondida. E ela não ousou mover-se. E ela não ousou chorar. O medo era tanto que ela apenas parada ficou. Ela ficou a esperar. Talvez ajuda, mas essa não veio. Na quinta noite ela ouviu atentamente os gritos e as tapas. Ouviu um estampido seguido por outro e antecedido por choro. Então ela saiu de seu refúgio e cambaleante caminhou até a sala. No chão havia dor, havia sangue, haviam dois corpos. Sua mãe, e o mostro, seu pai.